Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam
bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada vez mais se indispunham uns com
os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles
e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens?
Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a
desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exú pegou
a estrada e foi em busca de solução. Exú foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a
boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com
doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exú matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou
muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que
procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a
morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto,
desejem continuar vivos".
Exú retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os
dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa
que os satisfaça. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis
caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os
homens".
Exú foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exú pensou
e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exú, não sabes
o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o
que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses
cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus, recolherás dezesseis histórias,
dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai
juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis
odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens
irão cuidar de Exú de novo".
Exú fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exú
mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então
puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam
os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade
de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os
ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás
estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exú trouxe aos homens o Oráculo de Ifá.
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